O Alentejo ganhou, nas últimas décadas, uma muito justificada preferência dos consumidores. De um tempo em que os vinhos eram apenas apanágio das adegas cooperativas e de muito poucos produtores-engarrafadores, situação que era o quadro antes da nossa entrada na CEE, passámos para uma enorme diversidade de produtores, desde empresas gigantes até pequenos e discretos produtores. Para todos há lugar, e as vendas dos vinhos do Alentejo são disso prova. Com novos projectos chegaram também novas castas e o panorama mudou substancialmente. Deu-se também um fenómeno curioso: a casta Alicante Bouschet existia no Alentejo há 100 anos mas poucos lhe atribuíam importância, estava confinada a duas propriedades, o Mouchão e a Quinta do Carmo. A situação inverteu-se completamente e hoje quase se pode dizer que é parte integrante dos vinhos de lote da planície. E, como é o caso do vinho que sugiro, surge também como vinho varietal. A antiga rusticidade foi moldada e o tom demasiado sisudo foi também amaciado e assim temos tinto de elevado sentido gastronómico, especialmente indicado para acompanhar pratos de carne de porco que, ao lado do borrego, são as principais fontes de proteína das gentes da planície. Para um consumidor com tendências para cozinheiro, pode não ser fácil comprar boa carne de porco mas até nas grandes superfícies já aparecem com frequência cortes de porco preto ou de porco de montado. Para mim essa é sempre a melhor opção, são esses cortes que nos trazem de volta o sabor autêntico da carne porcina. O tinto há que bebê-lo em torno dos 16/17º. É de evitar o consumo a temperaturas mais elevadas porque o tinto resulta cansativo e pouco interessante.