Toda a região ribatejana é tributária do Tejo, o grande responsável pelo que de bom e trágico acontece naquela região. Actualmente o rio corre mais manso mas quem tiver idade para isso lembrar-se-á da terrível tragédia das cheias em 1967. A água inunda e fertiliza e dá origem a terras férteis onde a vinha medra e medra, atingindo produções inimagináveis, facilmente rondando as 25 a 30 toneladas de uva por hectare (no Douro, uma produção de 6 ou 7 ton/ha é um luxo…). Mas há também solos que são mais pobres, mais pedregosos, mais difíceis mas que originam vinhos com mais personalidade. Santarém é um dos pontos do país onde, no Verão, a temperatura mais sobe, o que mostra que os extremos aqui também se tocam. E o Ribatejo está muito longe de ser um todo homogéneo e, dos xistos da região de Tomar às areias da lezíria, de tudo aqui se encontra. Desde sempre conotada com vinhos bons e baratos, a região tem tido dificuldade em contrariar este estigma. É verdade que os vinhos são bons e baratos mas a região tem de ser capaz de mostrar que pode ir muito mais além e apresentar produtos de um patamar mais elevado. São esses que podem dar nome à região, quer internamente quer nos mercados externos. Alguns vinhos estão a apontar para aí e os principais produtores – Alorna, Lagoalva, Falua, Companhia das Lezírias, Rui Reguinga, Casa Cadaval, Casal Branco, entre outros – já estão a mostrar o grande potencial da região. A Fernão Pires, que é a bandeira da região, tem de ser mais conhecida e, o que muitos não saberão, é que o potencial desta casta não se esgota nos vinhos brancos a que dá origem. Prova disso foi um licoroso de 1882 que, provado agora, se mostrou magnífico, cheio de saúde e carácter. E do rio, desde que com arte e saber, colhe-se o que tão bem vai com estes vinhos, o peixe. Tudo, assim, pronto para o festim.
