É difícil falar da Ericeira sem falar do mar. É em torno do mar e dos seus produtos que a terra ganhou fama. Quem lá vai procura os mariscos e a escolha é enorme. Esta altura do ano é, por excelência, a época dos ouriços, um bicho a que muitos portugueses não ligam, muito provavelmente por nunca terem tido a oportunidade de provar a excelência que se esconde dentro da capa espinhosa. Por sorte pude provar, já há uns bons anos, um petisco dos deuses, criado por Joël Robuchon e reproduzido por um amigo muito entendido nas artes da cozinha e que, por sinal, demorou 3 dias a preparar o prato. Foi então que percebi a subtileza que os ouriços escondem e a perfeita ligação que é possível fazer com vinhos brancos. Por mais voltas que se dê, chegamos sempre à mesma conclusão: os mariscos – especialmente navalheiras, lagostins, camarão da costa – foram talhados para os brancos, sejam eles da região dos Vinhos Verdes (a ligação mais óbvia) ou de outras regiões, como a de Lisboa. De facto os cuidados que hoje se têm com as uvas, como o momento certo da vindima e com a fermentação e estágio, permitem dizer, sem margem de erro, que é possível encontrar brancos vibrantes em várias regiões do país, do Minho ao Algarve e chegando mesmo às ilhas. Algumas variedades portuguesas estão especialmente talhadas para acompanhar peixe e marisco, como a Arinto, nativa de Bucelas mas hoje espalhada por todo o país, tal como a Alvarinho, a Loureiro e outras que estão “no forno“ à espera de serem redescobertas pelos produtores, como é o caso da Uva Cão, uma variedade do Dão que tem uma acidez muito elevada e que poderá ser uma aposta forte em tempos de alterações climáticas. Hoje ficamo-nos num branco agora mesmo chegado ao mercado, o Chocapalha Viosinho 2019. Esta casta é, para muitos, a casta-rainha do Douro e também derivado a essa fama e qualidade que tem viu-se transportada para outras regiões do país. A zona de Lisboa, relativamente pobre em termos de castas brancas diferenciadoras, acabou por acolher não só a Viosinho como muitas outras, umas nacionais e outras vindas de fora. Uma coisa é certa: a proximidade do mar, a boa acidez que os vinhos têm e a frescura que apresentam acabam naturalmente por autorizar a ligação com o marisco. Por isso este será também um grande companheiro da mariscada, um termo bem popular para um encontro de amigos em que o marisco é rei.
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