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Em Peniche, com uma olhadela nas Berlengas

Joao Paulo Martins

Peniche é terra de peixe e de marisco. Da lota chega-nos o peixe que abunda na região. Sendo um dos mercados que mais frequento, sei que ali, fora aquelas variedades que todas os mercados têm, como o carapau, na época própria a sardinha, a cavala ou os chocos, há variedades que não me lembro de alguma vez faltarem no mercado: a raia e o safio (ou congro). São as raias com 3 a 4 dedos de altura no lombo e são os safios que, não raramente, ultrapassam os 20 kg. Depois para os mais tradicionalistas há o peixe seco, normalmente moreia mas também o chicharro e, muito frequentemente surgem os peixes mais vulgares naquela costa: o sargo, a safia, o cantaril, a abrótea e o bodião. O marisco, que nas Berlengas atinge a excelsa qualidade nos percebes, não chega à praça, tal como não chegam as maravilhosas amêijoas gigantes que se colhem na Foz do Arelho. Esses luxos temos de os procurar em viveiros ou em restaurantes da zona. Na época própria (Fevereiro) abundam os ouriços, uma iguaria que muitos nunca provaram. À riqueza piscícola não corresponde a produção de vinhos, uma vez que o clima da zona, com verões de intensos nevoeiros, não permite uma correcta maturação das uvas. Para procurar vinhos temos de ir mais para o interior. Não que seja preciso andar muito, uma vez que bastam menos de 20 quilómetros para encontrarmos logo ali a região de Óbidos que é uma das sub-regiões da grande zona de Lisboa. Bem perto de Óbidos fica a povoação das Gaeiras onde, desde há mais de 60 anos, existe uma propriedade emblemática, a Tapada das Gaeiras, com vinhos no mercado. Além da Tapada existiu em tempos um armazenista local – Vinhos José Gomes – que tinha no mercado um vinho famoso e de excelente relação qualidade/preço, o Oiro de Óbidos. Nas Gaeiras existia (e felizmente ainda existe) um branco feito com a casta Vital, variedade difícil mas que naquela zona específica se revela com muito carácter. E como é uma das castas antigas da região é mesmo necessário apoiar os que teimam em preservá-la. Este Gaeiras será seguramente um grande companheiro da cavala, um peixe que, em mãos sabedoras, pode originar pratos incríveis.