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E das areias nasce o vinho

Joao Paulo Martins

Quando viajamos na Península de Setúbal percebemos que a vinha tem ali uma enorme preponderância em termos de área que ocupa na paisagem. Há mesmo algumas zonas onde o termo “mar de vinhas” tem toda a aplicação. E essa noção de quase monocultura não é de agora. Se recuarmos até aos finais do século XIX, ficamos a saber que na zona do Poceirão existiu então a maior vinha contínua do mundo, qualquer coisa como 2000 hectares de Castelão. Não é fácil de imaginar, já que sem qualquer mecanização, com pisa a pé e com a vindima ser feita toda ao mesmo tempo, percebemos que o número de adegas, de carros de bois e de famílias inteiras ali instaladas tinha se ser fenomenal. Hoje, bem mais diversificada a viticultura e os vinhos, não deixa no entanto de ser a casta Castelão a que melhor identifica a região, por isso escolhi um tinto desta variedade. A grandeza regional fez-se – até se pensarmos em mercados externos – à custa da moscatel de Alexandria que é a casta responsável pelo generoso Moscatel de Setúbal, um dos nosso grandes vinhos deste tipo, ao lado do Porto e Madeira. O clima, a relativa proximidade do mar e a existência da serra da Arrábida, onde os solos não são de areia mas argilo-calcários, fazem do moscatel da serra um assunto muito sério. Também o há nas areias de Palmela mas não é a mesma coisa.