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A ver Porto Covo ao longe

Joao Paulo Martins

Desde sempre que a zona que se estende a sul de Sines quase até à fronteira do Algarve era deserta de vinhas. Sabendo-se que Portugal tem condições para o cultivo da vinha em praticamente todo o país, poderia parecer estranho que por ali não houvesse vinhas. Havia boas razões para isso: a proximidade do mar, mais do que uma vantagem era uma grande dor de cabeça: muitas doenças na vinha, muito oídio, muitos tratamentos, enfim um martírio. Mas vários produtores resolveram tentar a sorte e desafiar o infortúnio: as Cortes de Cima, em Vila Nova de Milfontes, os vinhos Vicentino e o Monte da Carochinha. Este último, de que falamos hoje, fica bem perto de Porto Côvo e a vinha foi instalada numa zona improvável, agreste e povoada com muitos javalis. O vinho que escolhemos é tinto mas a quinta também produz vinhos brancos bem interessantes e a preços muito acessíveis (entre os €4 e €6), vinhos que juntam, também aqui, duas castas improváveis, a Arinto e a Encruzado. Arinto é a casta mais disseminada por todo o país, sempre usada para dar frescura aos lotes e a Encruzado é a variedade emblemática do Dão que só agora, e algo timidamente, começa a sair da região e a surgir noutros pontos do país. São vinhos que ligam na perfeição com pratos de peixe, como o pregrado. No entanto proponho hoje uma pequena ousadia, ligar o peixe com o tinto, também a pensar naqueles consumidores (que os há…) que bebem tinto e só tinto, seja com que prato for. Este tinto usa uma casta que sempre amacia o lote, a Merlot, e outra que alegra qualquer vinho pelo seu carácter floral, a Touriga Nacional. Assim sendo, estou em crer que a ligação pode ser bem interessante. E é verdade que da vinha se vê Porto Covo e a ilha do Pessegueiro.